"The Other Side of the Mirror" Stevie Nicks, 1989
Os Fleetwood Mac eram um sucesso já firmado desde a década de 60 do século passado e a partir de 1975 e muito desse sucesso era devido a Stevie Nicks que nesse ano se tornara vocalista da banda.
Mas Stevie Nicks tinha todo o potencial para uma carreira a solo e em 1981 lança o seu primeiro álbum, Bella Donna alcançando imediato sucesso nas tabelas de vendas. Dois anos mais tarde, em 1983, The Wild Heart, o seu segundo álbum a solo, alcança de imediato a dupla platina chegando ao 5º lugar na Billboard 200.Uma vez mais, dois anos depois, lança Rock a Little e, uma vez mais, é um sucesso comercial.
A carreira a solo de Stevie Nicks estava em ascensão e em 1989 lança o seu quarto álbum, The Other Side of the Mirror. Com ele a cantora parece mostrar-nos um lado de si a que não tínhamos tido acesso até então, um lado introspetivo, de uma surrealidade consciente.
The Other Side of the Mirror, Alice quem?
The Other Side of the Mirror é um disco que deve ser interpretado, diz em determinada altura a própria Stevie Nicks, à luz da vida de cada pessoa que o ouve, e não como sendo a história de uma Stevie “Alice” Nicks, que um dia cai num buraco. E talvez seja essa a razão pela qual gosto tanto deste disco.
Tal como em Rayuela de Julio Cortazar, o livro que “é muitos livros”, onde cada um de nós pode criar uma leitura específica, também com The Other Side of the Mirror isso funciona e cada um de nós pode ouvir uma história específica, a sua história, assim como a história do outro. Haja vontade.
Na minha opinião é bastante claro que Stevie Nicks é aqui Alice, uma Alice que na queda perdeu camadas de cuidado, mais afastada das estrelas mas consciente de que elas existem e procurando por elas em busca de alguma orientação. Fico a pensar nisso em "Ghosts" quando a cantora se refere à ideia de pensarmos que alguém nos segue, sabendo que estamos errados, que a impressão por cima do ombro é o fantasma de quem gostaríamos de ser e o fantasma do passado em que vivemos…
De igual modo, a Alice em The Other Side of the Mirror parece ter plena consciência do mundo virado ao contrário em que vive e das necessidades que tem. Em "Whole Lotta Trouble", numa das várias conversas com anjos que o disco nos dá a conhecer ouvimos:
And the angel said, "Well you must have had a dream"
And you remember it till the dream followed through
Till the end of the dream and the dream came true
When I want something, I get it
The Other Side of the Mirror leva-nos pela viagem de Alice, que pode ser a viagem de tantos quantos, entre altos e baixos, vivem na completa aceitação de que o seu mundo existe enquanto parte do mundo dos outros e que, ainda que por vezes sendo esses mundos antagónicos, essa é uma relação simbiótica.
Tudo isto é confuso? Tudo isto é estranho, quase de loucos? Sim, é o que nos espera do outro lado do espelho.
Este disco de vinil é uma edição original de 1989.